Friday, December 21, 2007

Frase


Uma frase séria, mas que faz pensar...
Tem me feito pensar... todos os dias...

"Aquilo que não enfrentamos retorna como destino" (Jung)

Saturday, December 8, 2007

Da aurora até o luar


... música nova e linda de Marisa Monte... até parei o carro para ouvir...
Vale a pena!

Da Aurora Até o Luar
Marisa Monte
Composição: Arnaldo Antunes / Dadi Carvalho

Quando você for dormir
Não se esqueça de lembrar
Tudo que aconteceu
Da aurora até o luar

Olho de janela
Nuvem de algodão
Pele de flanela
Sopa de vulcão

Borda de caneca
Bola de papel
Ferro na boneca
Lágrima de mel

Toda noite lembra o que aconteceu de dia
Sonha para o sono vir

Quando você for dormir
Quando você se deitar
Deixa o pensamento ir
Sem ter nunca que voltar

Música vermelha
Pássaro de flor
Chuva sobre a telha
Beijo de vapor

Riso no escuro
Lua de beber
Voz detrás do muro
Medo de morrer

Toda noite cria o que acontecerá de dia
Para o novo dia vir

Wednesday, November 28, 2007

Perdizes


Os que conhecem o bairro de Perdizes em São Paulo sabem de suas descidas e subidas tão íngremes que cansam só de pensar. Uma amiga carioca do Leblon uma vez disse que Perdizes parece cidade do interior.

Não sei se concordo. No interior a vida é bem menos corrida do que essa nas ladeiras de Perdizes.

Dizem que antigamente existia uma fazenda cortada por um rio bem onde hoje existe a avenida Sumaré. Até hoje a gente consegue ver biquinhas d'água brotando em algum canto da Sumaré, que servem de refresco e de tanque de lavar roupa para muitos moradores de rua.

Hoje, prédios não param de surgir... mais atualmente até, só prédios de alto padrão... 4 suítes, 4 vagas na garagem, salas com varandas imensas... Carros, ônibus e muitos cachorros não param sossegados no sobe-desce das ladeiras...

Outro dia, num desses dias cinzas, típicos de São Paulo, fui surpreendida por uma tempestade de verão (em plena primavera!!!) bem quando eu subia a Monte Alegre.

Em questão de minutos a calçada virou uma cachoeira impossível de se andar.
Os carros estacionados, desviavam a água da enxurrada para a calçada e tudo virou um caos total.

O guarda-chuva de pouco adiantou.

Resolvi esperar melhorar o aguaceiro para pelo menos poder terminar minha caminhada até o trabalho. Foram-se 20 minutos nessa espera.

Como não tinha remédio a não ser esperar, fiquei lá embaixo do toldo da lanchonete olhando a bagunça toda.

Imaginei a antiga fazenda.
Árvores grandes.
Árvores pequenas.
Pastos sem fim.
Plantações de lavanda.
Pomar com frutas de todos os tipos.
Bichos.
Joaninhas.

Com a melhora da situação da calçada, segui até o trabalho... ensopada...
... mas de alma bem leve depois do banho de chuva e da minha viagem no tempo.

Friday, November 23, 2007


Com a sensibilidade à flor da pele, hoje vi uma cena que vai ficar para sempre marcada na minha lembrança.

O dia amanheceu frio... gelado.
Em pleno Novembro, não era isso que esperaria-se do clima.
Depois de dar a primeira aula do dia às oito da manhã da sexta-feira, resolvi ir até a padaria comprar um pãozinho com manteiga para matar a fome gigantesca por conta do café da manhã não tomado antes de sair correndo cedo de casa.

Do outro lado da rua, um casal.
A senhora carregava seu filho bem enroladinho em uma manta verde.
Geralmente, crianças, mães com bebês me chamam a atenção por sua beleza em si.
Mas esse casal com seu bebê foi diferente.
O pai, carregava a pequena bolsa da mulher e a abraçava com um dos braços.
Ela, de pele e o olhos claros, tinha um ar triste.

Os três entraram na padaria logo atrás de mim.
A padaria estava lotada.
Logo uma senhora ofereceu seu banco no balcão para a senhora com o bebê

Ela não aceitou.
Ao invés, encostada em uma pilastra, invisivel às pessoas apressadas que tomavam seu café no balcão, checava seu fiho constantemente em baixo do cobertorzinho.
E uma lágrima correu seu rosto.
O marido, de alguma forma a tentava consolar.

Que agonia.
O que haveria de ter acontecido?
Por que ela estava triste?
O que eu posso fazer para ajudar?
Ai, meu Deus!

Nesse turbilhão de pensamentos e sentimentos, peguei meu pedido e covardemente deixei a padaria.

Friday, November 16, 2007

Ciclos


Começou dia 14...
E neste próximo mês estarei fechando alguns ciclos na minha vida.
Dias doloridos.
Importantes.

Muitas vezes tendemos a nos apegar ao que perdemos.
Devo dizer, à idéia do que perdemos e todos os sentimentos envolvidos.
Sei lá porquê...

Talvez pela dificuldade de acreditar que passamos por tudo o que passamos...
... para tentar aceitar que tudo NÃO foi um sonho, embora muitas vezes gostaríamos que tivesse sido.
Ou até mesmo na inútil tentativa de entender nossa vida, nosso destino em nossa passagem por esse mundo de meu Deus.

Desapego.
Desapego do que se foi.
Oh coisa dificil!

Outro dia esse insight me invadiu como a sensação de um corpo caindo.
E de súbito, paz invadiu meu coração...

Meus passos agora serão em direção ao desapego.
Deixar ir o que se foi.
Não é fácil não.

O que vivi, carrego comigo.
O que senti, fica na alma.

E me prepara para o novo...

Thursday, November 8, 2007

O corpo... ah, o corpo


Que coisa mais linda é o corpo da gente.
Ele fala de uma maneira tão subliminar...
às vezes grita!
Que linguagem estranha, essa a do corpo.
Traz em suas células impressões míninas que fazem tanta diferença...
Onde habita nossa alma... nosso verdadeiro eu.

Meu pé está inchado...
Dói.
Cadê meu ossinho?
Não posso correr... caminhar, só um pouco.
Nada de esforço físico.

Como faz diferença!!!

Percebo meu corpo de outra maneira assim.
Isso influencia como eu sinto todas as outras coisas.
Fico irritada, triste, lenta, cansada...
Uma rua parece um campo de batalha...

Cuidando do corpo, cuido da alma também...
Agora, haja massagem, escalda-pé e pernas para cima...

(foto: http://www.flickr.com/photos/faysterpaints/1911427894/)


Saturday, October 20, 2007

Símbolos


Sua cabeça doía.
Talvez por muitos pensamentos, mas a sensação era de vazio.
Os dias pareciam atropelá-la.
E ela se deixava levar pela vida.
Sempre esperando algo maior acontecer.
Mal sabia ela, que a vida acontece dia a dia... e que o tempo estava passando... sua vida estava passando.
E passando depressa.
Suas lembraças de infância e adolescência pareciam ainda tão recentes...
E de repente o rosto que ela via no espelho era de uma mulher madura.
Tinha tantas coisas para fazer ainda... tantos lugares para conhecer... e o tempo parecia curto.
Um certo sentimento de conformismo com sua exitência chegava e achava lugar em seu coração.
Tinha uma alma nobre.
Não reclamava.
Vivia o que conseguia viver.
E era feliz a maior parte do tempo.
Gostava de andar.
Tinha olhos que viam os detalhes das coisas.
Via e guardava para si. Como seu tesouro.
E tudo passava a ter um significado muito intimo e pessoal.
Colhia flores que caiam das árvores, prestava atenção nas frutas que apareciam pelo seu caminho, conversava com cachorros, cantava, dançava, sorria para as pessoas e adorava dar bom dia e falar sobre o tempo.
Tudo isso mantinha sua sanidade.
E à noite sonhava...

(foto: Symbol of Hope: http://www.flickr.com/photos/londonslr/455761531/in/photostream/)

Monday, October 15, 2007

Horário de Verão


Minha companheira no MP3 todos os dias da semana... para aliviar...
Recomendo!
Ouçam, cantem e dancem.

Pirraça
Vanessa Da Mata

Passa o tempo sem demora
Quando não penso nas horas
Os ponteiros do relógio
Fazem voltas se não olho
Mas quando acendo o fogo
Para fazer um café
Vejo o tempo parar
Pra água ferver
Parece nunca acabar, espera sem fim
06:04; 06:05; 06:05; 06:05
Esperando o apito da chaleira
Vejo o tempo parar
Parar
O tempo pirraça
Quando à tarde no trabalho
Quero que o tempo passe
Os ponteiros do relógio
Só me dão o tique-taque
Quando eu encontro os amigos
Para tomar um café
A rapidez que não tinha
Sem disfarçar
Parece brincadeirinha
Pega-pega
Quando paro e olho as horas
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa toda
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros
E vejo o tempo parar
Parar
O tempo pirraça
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba

Saturday, October 13, 2007

João


Hoje encontrei uma joaninha.

Ou melhor, um joaninho... era preto e tinha duas pintas laranjas...

Achei que a falta do vermelho pintadinho de preto fez aquele insetinho parecer menino.

Não demorou para ele aceitar a oferta de dar uma volta pelo bairro na minha mão.

Muito querido ele.

Apareceu bem depois de eu ter sonhado com o meu filho João.

Muito bom ter ele no meu colo no sonho.

Sentir que ele se aconchegou no meu ombro e cabia certinho na minha mão.

No sonho, alguém me dizia que era hora de me despedir dele. Que eu ia ficar sem ele...

Lógico que tratei de acordar antes da despedida.

Quando acordei ainda senti o João no meu colo, e consegui até ver seus olhinhos e cabelo preto penteadinho para o lado.


... me despedi do joaninho o deixando em um canteirinho de flores coloridas. Lindas e delicadas como ele.

Espero que ele venha me visitar mais vezes.

Sunday, September 30, 2007

Temperos


Minha mão está cheirando a tempero de feijão... cebola, alho, cominho e folha de louro.

Hoje acordei ardida.

Tive pesadelos... acordei chorando.

Cozinhei a carne ao curry... e mais cebola.

A farofa estava deliciosamente apimentada...

Tudo com gosto de comida de vó... feita com muitos beijos e bem demoradamente, afinal, hoje é domingo... pra quê a pressa?

Manjericão para o molho, alecrim para a batata, cardamomo para o café, canela para a torta de banana, orégano e azeite para o queijo, tomilho para o peixe.

O dia deveria passar bem devagar... postergando infinitamente a segunda-feira.


(foto: http://www.flickr.com/photos/n0mad/286175232/)

Friday, September 28, 2007

Mulher-papagaio, Mulher-onça, Grande Pajé e o Céu azul da iniciação


Depois de uma aula maravilhosa da querida Elizabete Lepera, que graciosamente contou o mito de Iuaretê de Kaka Wera, eu queria mais era encontrar o silêncio de minha Mulher-papagaio, mas a Sumaré congestionada, como era de se esperar em uma sexta-feira, me prende em uma esfera bem mais consciente...

Existe um chamado dentro de mim.

Um chamado a seguir minha jornada heróica de vencer um desafio interno.

E ao mesmo tempo a voz do papagaio me avisando de todos os perigos e desafios dessa jornada, e me lembrando constantemente de meus medos e falhas, fraquezas e a constante e real possibilidade de fracasso.

O início da jornada está sempre a um passo de mim.

Esse chamado implica em encontrar o equilibrio dinâmico entre o papagaio e a onça em mim. Até que eu enxergue céu azul sem nuvens...

... e tudo o que isso significa.

There's a hero

If you look inside your heart

You don't have to be afraid of what you are

There's an answer

If you reach into your soul

And the sorrow that you know

Will melt away


And then a hero comes along

With the strength to carry on

And you cast your fears aside

And you know you can survive

So when you feel like hope is gone

Look inside you and be strong

And you'll finally see the truth

That a hero lies in you


It's a long road

When you face the world alone

No one reaches out a hand

For you to hold

You can find love

If you search within yourself

And the emptiness you felt

Will disappear


(foto: http://www.flickr.com/photos/underhiswings/1442573519/)

Sunday, September 23, 2007

E a primavera chegou... mais uma vez


As pessoas costumam medir seus anos de vida com base em "quantas primaveras" já vivenciou.

Estou vivenciando minha trigésima primavera.

Muito quente, por sinal.

Estou aqui, depois de um banho fresco, com os cabelos molhados, às 23:08 esperando o calor passar e o cabelo secar para ir me deitar...

Amanhã o despertador toca às 5:15...

Nada de chuva há mais de 50 dias.

Plantei canteirinhos de temperos, lavandas e girassois para saudar a quente primavera.

Coloquei flores coloridas pela casa, abri as janelas e as cortinas...

Amanhã prometo usar vestido e sandálias.

Nessa cidade maluca, as pessoas resolveram não usar o carro um dia no ano... e só duas árvores na minha rua floresceram. Um rosa e a outra lilás.

Percebo pés de amora, goiaba e ameixa cheios de frutos pelas calçadas do meu bairro... outro dia comentei isso com outras pessoas, mas eles nem faziam idéia do que eu estava falando.

Quem mais enxerga primaveras hoje em dia?

(foto: http://www.flickr.com/photos/spritegirl1123/407149764/)

Wednesday, September 12, 2007

Família


Existe coisa mais estranha, mais complicada e mais gostosa que família?

Eu amo minha família.

É muito bom saber que eles existem, mesmo sem ter contato com todos, todos os dias.

Minha família é meu ponto de referência.

De normalidade e de loucura também.

Dizem que não devemos julgar as pessoas por seus parentes... não sei se concordo.

Acho bom olhar para minhas avós e reconhecer traços delas em mim.

Saber que não quero ficar como minhas tias (em diferentes aspectos) e tentar evitar isso desde já.

Lembrar dos primos em nossas bagunças e brincadeiras de infância. A árvore que virava barco, o barranco que era a "escadinha do céu", Barbies, circos, férias, zoológico...

Sentir saudades da minha mãe e do meu pai de uma maneira que nem sei dizer... e sentir que dou tão pouco a eles comparado com tudo o que fizeram e continuam a fazer por mim.

E minha irmã? Pessoinha que eu vi nascer, defendi a macacadas, e hoje é uma pessoa tão grande, tão íntegra que me mata de orgulho falar dela para as pessoas...

Meu marido... sorriso ao amanhecer, abraço que aperta tão gostoso... porto seguro.

E o futuro por vir...

Filhos... cachorros... netos... bisnetos...

Isso tudo...

Esses todos... fazem a vida valer a pena... um dia depois do outro.
(Foto do campo de lavandas que plantei com minha família no sítio do meu pai... um dos meus lugares preferidos no mundo inteiro - Recanto da Joaninha)

Friday, August 31, 2007

A Mandala da Vida


Como são as coisas...

Hoje ouvi muito sobre o movimento de idas e vindas da vida e de como não existe falar em evolução sem se falar em mudanças.

A Mandala da Vida é esse movimento.

Um eterno caminho em direção ao centro e de volta à extremidade, ao Self e ao exterior, e tudo de novo e mais outra vez, e assim por diante...

Um processo de evolução de consciência.

Caminho nada fácil esse...

Sofrido às vezes...

Mas sem dúvida, muito lindo.

Um caminho de movimento.

A experiência de recriar-se é muito gratificante.

Sentir-se renovada, é como acordar de manhã e tomar um banho demorado e em seguida abrir a janela para o sol e a brisa entrarem.

Há também que se admirar os momentos críticos. Eles são precursores de um desenvolvimento que há de vir. Também são momentos de cura.

Como foi me dito outro dia, "Longe da nossa vida estão os estados ideais".
Observar a Mandala da Vida acontecendo a cada dia é muito curativo.

Um sossego para a Tormenta.


Wednesday, August 29, 2007

I'm going through changes...




Agosto.
Eclipse.
Frio.
Ar seco.
Cansaço.
Meus problemas não são mais os mesmos...
Vazamento, julgamento, dinheiro, madrugada...
Meu corpo não é mais o mesmo...
Meu ritmo não é mais o mesmo...
Nem meu rosto... nem meu gosto...
Mal me reconheço em várias situações...
Existe esse sentimento de mudança...
A pre-ciência de que algo há de vir...
De que o mundo está mudando, de que algumas coisas estão mudando...
Como ouvir um enigma de um oráculo.
Serei eu?
Será o universo?
Será bom?
E uma saudade...


"Homesick
'Cause I no longer know
Where home is"
(Kings of Convenience)


(foto: oráculo de Delphos - Grécia: http://www.flickr.com/search/?q=or%C3%A1culo&page=3)

Monday, August 27, 2007

A menina e o Anjo


Eles estavam ligados um ao outro.
De outras vidas.
Ela, uma menina. De olhos curiosos, voz macia e espírito alegre.
O anjo, azul. Meigo. Bom por natureza.
Fazia tempo que não se encontravam.
Na verdade, não se viam desde aquela lua cheia, mas de certa forma estavam perto um do outro.
Nenhum dos dois sabia porque haviam se encontrado... no mundo dos sonhos, como tantas vezes havia sido...
Encontros de anjos e meninas não têm explicação.
Dessa vez se encontraram para despedirem-se. Mas ainda não sabiam disso.
Novamente a lua...
Eles se olharam e se reconheceram.
No próximo instante já estavam abraçados num abraço sem fim.
A menina sentia a maciez do abraço do anjo e parecia que todo seu cansaço, toda dor de seu corpo e de sua alma desapareciam.
Poder de anjo. Carinho de anjo.
Uma paz azul, como o anjo, pairou sobre o lugar.
E no céu, também de um azul infinito o anjo se foi...
"In the arms of the angel
Far away from here
In the arms of the angel
May you find
Some comfort here"

(foto por kneague: http://search.creativecommons.org/#)

Friday, August 24, 2007

Memórias, sonhos e reflexões


Ela conhecia bem aquele sentimento.
Um silêncio interno. Uma solidão.
Passara o dia ouvindo sobre sonhos, pesadelos e dores.
O pensamento não necessariamente estava ali.
O sol caminhou pelo céu e encontrou uma fresta na cortina da sala para lhe aquecer o rosto.
Os olhos ardiam de sono. O corpo, cansado.
A discussão do grupo soava com eco em sua cabeça, que começava a doer.
Palavra ou outra se destacava do que estava sendo dito e a puxavam de volta para a sala.
Café. Precisava de café. E água.
Naquele dia seco e morno de inverno seus lábios estavam extremamente secos. Ardiam. Como seus olhos.
Pegou uma garrafa de água e tomou com tanta sede que chegou a escorrer pelo canto direito de sua boca. Ninguém notou, apesar de estar rodeada por várias pessoas. Pediu um capuccino. Cremoso. Sem açúcar.
Sentada, lembrou de um sonho que tivera anos atrás.
Chegava a ser impressionante sua capacidade de lembrar seus sonhos. Mesmo os mais antigos.
Esse sonho, em especial, era bastante interessante.

Estava em um supermercado andando entre os corredores sem saber o deveria pegar.
Andava. Seus olhos corriam as prateleiras e os itens que elas continham. Em vão.

Fim da cena. Continuava a dormir sem mais sonhar.
Na noite seguinte, o mesmo sonho.

De volta ao mesmo supermercado. Andava pelos corredores... prateleiras... itens... nada... o que pegar? De repente, um pensamento: sua mãe saberia lhe dizer o que pegar.

Fim de cena. Sem esse ou outro sonho, o sono seguia até acordar pela manhã.

Na próxima noite, lá estava ela novamente no supermercado. Andando pelos corredores, mas dessa vez havia algo diferente. Sentiu a presença de sua mãe. Andou entre os corredores em direção à saída do supermercado. No caixa, segurando uma cesta estava sua mãe, e dentro da cesta três filhotes de cachorro.

Fim do sonho.

Ainda pensando no sonho caminhou pelas ruas do bairro em direção à sua casa.
O silêncio e a solidão cresciam dentro si.
Era um fim de tarde lindo, como são os fins de tarde de inverno. Anunciava uma noite agradável de céu limpo e lua crescente.
As pessoas da cidade já começavam a se agitar em direção aos bares com suas famílias e amigos para celebrar a semana que se acabava em tão maravilhosa noite de inverno.
Ela passava pelas pessoas sentindo-se cada vez mais só. Invisível até.
Interessante como a solidão já fazia parte dela. Sentia-se triste por isso. Tudo o que não queria era voltar para a casa vazia com dois filmes para assistir e duas garrafas de água para matar sua sede.
Naquela noite em particular gostaria de uma companhia.
Já sentia a dor de cabeça mais forte e seu corpo febril.
E o silêncio.
E a solidão.

Wednesday, August 22, 2007

Prólogo

"Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade."
Memórias, Sonhos e Reflexões
Carl Gustav Jung
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